A puta que nos pariu

Minha mãe é uma puta por opção e não por necessidade. E é exigente. Não deita em seus braços nus qualquer um, antes, escolhe deliberadamente quem desfrutará de seus prazeres.

Tenho milhares de irmãos, mas faço parte dos renegados. Ela me colocou longe de seus seios fartos, assim como a maioria deles. Ela ama mesmo, o filho do estrangeiro, o descendente de alemão, o descendente do português e assim por diante, dos filhos deste solo, ela se recusa a ser mãe gentil.
Passamos fome, em seu solo fértil, Passamos sede, mesmo tendo nossas casas alagadas por seus rios. Mendigamos o farelo do pão, aqui na calçada, enquanto seus clientes e os primogênitos nos olham com desprezo, como se fôssemos os cachorrinhos.
É uma pena que a fome me impeça de ficar ludibriada com seus inúmeros caprichos, porque ela é tão bela… às vezes nem acredito que faço parte de sua História, que foi meu pai, com sua mão nordestina que ajudou a adorná-la e torná-la mais bonita.
Tenho esperança que um dia mamãe me aceite, mesmo que seja deitada por entre as folhas dos jornais, já murcha da idade, abandonada por seus amantes viris, entre seus filhos renegados.

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